<i>La Faena</i>
Os espíritos da contenda Costa/Seguro emigraram com a vitória jucunda do primeiro e a bisonha retirada do segundo e a Informação volta lentamente à rotina. O novo entremez do PS, agora com António Costa em palco e o fundamental por dizer – ou seja, como e com quem vai afrontar os interesses instalados dentro e fora do País –, não tem a suculência da luta de galos agora terminada. Apenas se sabe, garantidamente, em relação ao novo PS/Costa: só poderá realizar a prometida «nova política» afrontando os tais interesses pela esquerda e com a esquerda. Tudo o que fizer fora disso, não valerá um tostão furado (como de costume).
Daí regressarmos aos assuntos corriqueiros, que até são excepcionais, no sentido em que o Governo impôs ao País um Estado de excepção que tem vindo, metodicamente, a desmontar à peça o Estado social e a democracia de Abril.
Mas desta vez o chanceler Coelho está no meio do praça com a Tecnoforma às costas, exposto a um País expectante e já coriáceo às bandarilhas com que farpeja há três anos o País.
O que se pressente por trás do caso é um escândalo de grandes proporções, entendendo-se neste escândalo o que tem germinado ao longo de décadas como erva daninha pelas instituições e eruptando uma teia de pseudo-empresas, «consultadorias», «escolas profissionais» e o diabo a sete, que acantonam trafulhices e vão sangrando recursos impunemente.
O chanceler Coelho, além da grotesca manobra de «não se lembrar» se recebeu ou não cinco mil euros/mês durante três anos, enquanto era deputado em exclusividade, duas semanas depois surgiu na AR a lembrar-se de repente que nunca tinha recebido nada da Tecnoforma – uma empresa que já faliu, sem ninguém perceber o que produziu ou fez –, e escapulindo-se no seu papel de «consultor» numa ONG criada por Passos e paga pela Tecnoforma cuja, segundo o seu ex-director-geral, Fernando Madeira, custava um milhão de euros/ano. Pois de tal balúrdio, o chanceler Coelho diz mimosamente que só recebeu «ajudas de custo», embora sem quantificar quanto e quando, enquanto o Público surge com mais novidades, nomeadamente que «ao tempo» (como Passos gosta de dizer) em que o chanceler recebia «ajudas de custo», o ex-secretário-geral da JSD, João Luís Gonçalves, também era pago pelo mesmo cofre que satisfazia as «ajudas de custo» do correligionário (e decerto amigo) Passos.
Razões mais do que suficientes para o PCP exigir na AR ao primeiro-ministro que esclareça o caso das já famosas «ajudas de custo».
O chanceler Passos Coelho tantas voltas deu na sua ascensão ao poder, que acabou no meio do redondel, exposto, sozinho, sem dilações ou guardas pretorianas e já só com biombos atrás dos quais se procura evolar.
Chegou ao fim a longa faena com que tem «lidado» o País. O «matador» foi colhido seriamente.