<i>La Faena</i>

Henrique Custódio

Os espíritos da contenda Costa/Seguro emigraram com a vitória jucunda do primeiro e a bisonha retirada do segundo e a Informação volta lentamente à rotina. O novo entremez do PS, agora com António Costa em palco e o fundamental por dizer – ou seja, como e com quem vai afrontar os interesses instalados dentro e fora do País –, não tem a suculência da luta de galos agora terminada. Apenas se sabe, garantidamente, em relação ao novo PS/Costa: só poderá realizar a prometida «nova política» afrontando os tais interesses pela esquerda e com a esquerda. Tudo o que fizer fora disso, não valerá um tostão furado (como de costume).

Daí regressarmos aos assuntos corriqueiros, que até são excepcionais, no sentido em que o Governo impôs ao País um Estado de excepção que tem vindo, metodicamente, a desmontar à peça o Estado social e a democracia de Abril.

Mas desta vez o chanceler Coelho está no meio do praça com a Tecnoforma às costas, exposto a um País expectante e já coriáceo às bandarilhas com que farpeja há três anos o País.

O que se pressente por trás do caso é um escândalo de grandes proporções, entendendo-se neste escândalo o que tem germinado ao longo de décadas como erva daninha pelas instituições e eruptando uma teia de pseudo-empresas, «consultadorias», «escolas profissionais» e o diabo a sete, que acantonam trafulhices e vão sangrando recursos impunemente.

O chanceler Coelho, além da grotesca manobra de «não se lembrar» se recebeu ou não cinco mil euros/mês durante três anos, enquanto era deputado em exclusividade, duas semanas depois surgiu na AR a lembrar-se de repente que nunca tinha recebido nada da Tecnoforma – uma empresa que já faliu, sem ninguém perceber o que produziu ou fez –, e escapulindo-se no seu papel de «consultor» numa ONG criada por Passos e paga pela Tecnoforma cuja, segundo o seu ex-director-geral, Fernando Madeira, custava um milhão de euros/ano. Pois de tal balúrdio, o chanceler Coelho diz mimosamente que só recebeu «ajudas de custo», embora sem quantificar quanto e quando, enquanto o Público surge com mais novidades, nomeadamente que «ao tempo» (como Passos gosta de dizer) em que o chanceler recebia «ajudas de custo», o ex-secretário-geral da JSD, João Luís Gonçalves, também era pago pelo mesmo cofre que satisfazia as «ajudas de custo» do correligionário (e decerto amigo) Passos.

Razões mais do que suficientes para o PCP exigir na AR ao primeiro-ministro que esclareça o caso das já famosas «ajudas de custo».

O chanceler Passos Coelho tantas voltas deu na sua ascensão ao poder, que acabou no meio do redondel, exposto, sozinho, sem dilações ou guardas pretorianas e já só com biombos atrás dos quais se procura evolar.

Chegou ao fim a longa faena com que tem «lidado» o País. O «matador» foi colhido seriamente.

 



Mais artigos de: Opinião

Embusteiros

Perante o crescimento eleitoral da CDU, o desgaste acelerado dos partidos do Governo (PSD e CDS) e a recuperação residual do PS, soou o alarme do grande capital, preocupado com a erosão da base social de apoio aos partidos da política de direita. Logo se agitaram os seus centros de comando...

Uma velha novidade

Um dos objectivos dessa grande operação destinada a dar força à continuidade da política de direita que constituíram estes últimos meses de cobertura mediática ao processo eleitoral dentro do PS, foi também a projecção do modelo das...

Filhos da pátria

À beira de completar 65 anos, é membro do Conselho de Governadores, do Conselho Geral de Governadores do Banco Central Europeu, do Conselho Geral do Comité Europeu de Risco Sistémico, do Grupo Consultivo Regional para a Europa do Conselho de Estabilidade Financeira, preside ao Conselho...

Confiança

Confiança, mesmo numa altura em que os bolsos de quem trabalha são usurpados em mais de oito mil milhões de euros só para pagamento de juros da dívida e quando se prepara mais de sete mil milhões de euros de cortes na despesa para os próximos anos.
Confiança, mesmo quando é destruída a capacidade produtiva do País, com um milhão e quatrocentos mil trabalhadores desempregados, três milhões de pobres e uma emigração ao nível da década de 60 do século passado.

Em nome da oligarquia

Se alguém desejar conhecer em pormenor como se desfaz e empurra para o abismo um país, então deverá fixar o exemplo da Ucrânia, especialmente ao longo do último ano. Deparar-se-á com uma verdadeira história de ódio e terror com carrascos e vítimas, onde...